Entre muitas lágrimas e soluços, o multicampeão viu a acusação apontar o caráter do crime como premeditado, enquanto a defesa afirmou que Pistorius confundiu a namorada, que foi alvejada dentro do banheiro, com um ladrão.
No fim da audiência, o representante de Pistorius leu uma declaração do atleta, que estava aos prantos no tribunal. Ele afirmou ter atirado com a intenção de proteger a si mesmo e a namorada.
- Voltei para a cama e vi que Reeva não estava lá. Foi quando percebi que poderia ser ela lá dentro. Arrombei a porta do banheiro com o taco de críquete e a encontrei jogada no chão. Ela estava viva. Coloquei as próteses. Liguei para os paramédicos e tentei levá-la ao hospital. Tentei salvar Reeva, mas ela morreu nos meus braços. Nada pode estar mais longe da verdade do que eu ter planejado o assassinato da minha namorada. Sou um homem adulto, um cidadão sul-africano e demandante de uma liberação sob fiança. Fiz essa declaração sob minha livre vontade e não fui influenciado. O conteúdo dela é verdadeiro e correto. Não consigo compreender como fui acusado de assassinato. Não tive intenção de matar minha namorada Reeva Steenkamp - disse Pistorius.
Pistorius chegou cedo ao local, antes das 7h (horário de Pretória). Escoltado por policiais, o atleta usou um capuz para cobrir o rosto e entrou pela porta dos fundos, tentando evitar os muitos flashes disparados pelos fotógrafos.
Na porta do tribunal, representantes da Liga Feminina do Congresso Nacional Africano protestaram contra o atleta com uma placa que dizia: "Pistorius deve apodrecer na cadeia".
O promotor responsável pelo caso, Gerrie Nel, começou o discurso de acusação afirmando que Pistorius atirou em uma mulher inocente e desarmada, que tentou se proteger dentro de um banheiro. Segundo ele, o sul-africano acertou a namorada três vezes através da porta. O atleta, nesse momento, já cobria o rosto com as mãos.
Mulheres protestam e pedem prisão para Pistorius
na porta de tribunal (Foto: Reuters)
A acusação afirmou que Reeva chegou a se trancar no local, mas não
conseguiu se desvencilhar dos tiros. Foram quatro balas, três através da
porta, em um crime considerado premeditado. O promotor reiterou que não
acredita na hipótese de Pistorius ter confundido Reeva Steenkamp com um
ladrão.na porta de tribunal (Foto: Reuters)
Segundo ele, essa foi uma estratégia adotada pelo atleta para fugir da culpa pela morte da namorada. A acusação ainda afirmou que a jovem chegou no fim da tarde na casa do medalhista paralímpico, com uma mala para passar a noite.
Ainda pela versão da promotoria, o biamputado Oscar Pistorius levantou-se, colocou suas próteses e andou sete metros para disparar contra a namorada. Questionado se estava acompanhando o raciocínio, o atleta respondeu positivamente, soluçando. O bastão de críquete com sangue, citado pela imprensa sul-africana, que foi encontrado na casa de Pistorius, não foi mencionado pela acusação.
Defesa afirma que atleta não sabia que Reeva estava no banheiro
Na sequência, foi a vez de o advogado de Oscar Pistorius, Barry Roux, ganhar a palavra. De cara, foi questionado o caráter premeditado do crime.
A defesa foi além e afirmou que o episódio não se trata de um assassinato e fez pouco caso do fato de terem encontrado uma mala de Reeva na casa de Pistorius. O advogado mostrou no tribunal alguns casos onde maridos atiraram acidentalmente em mulheres e filhos através de portas fechadas. Roux garantiu que seu cliente quebrou a porta do banheiro para ajudar Reeva após os disparos.
O advogado insistiu que Pistorius não sabia que se tratava de Reeva Steenkamp ao atirar, temendo ser um ladrão. A defesa também negou que o sul-africano tenha colocado as próteses para cometer o crime.
A acusação não comprou a ideia. O promotor Gerrie Neil afirmou que houve uma discussão antes de Pistorius disparar na direção da namorada, mas não mencionou se ela foi gerada pelo suposto SMS do ex-namorado de Reeva, o jogador de rúgbi François Hougaard. A briga teria sido o motivo para Reeva ter se trancado no banheiro.
- Não seria correto da minha parte falar sobre o motivo. Mas podemos dizer que houve um motivo para matar - disse o promotor.
Juiz considera crime premeditado
Após um recesso, o juiz Desmond Nair, responsável pela audidência, afirmou que o promotor Gerrie Nel apresentou fatos objetivos na corte: a mala da modelo, os tiros por trás da porta, a porta quebrada do lado de fora, e o fato de Pistorius ter levado o corpo para o primeiro andar de sua casa. Nair também observou alguns pontos mostrados pela acusação como: por que um ladrão se trancaria no banheiro? Por outro lado, o juiz afirmou que única inferência da promotoria foi que Pistorius colocou a prótese antes de pegar a pistola e atirar contra Reeva.
Nair preferiu não entrar na discussão plena do significado de premeditação e decidiu que o caso de Pistorius está na categoria seis (crimes extremamente graves). A partir daí, a defesa do sul-africano precisava mostrar ''circunstâncias excepcionais'' para conseguir a fiança.
Depois de outro intervalo, o advogado de Pistorius, Barry Reux, optou por questionar a acusação. Ele contestou fatos apresentados antes da audiência e a ausência de testemunhas para confirmar as declarações da promotoria. O advogado também perguntou que provas concluíram que Pistorius colocou suas próteses antes de atirar. O promotor, Gerrie Nel, garantiu que terá todas as respostas nesta quarta-feira.
Declaração emocionada conta versão de Pistorius
Na sequência, Reux leu uma declaração juramentada de Oscar Pistorius, onde o atleta deu sua versão do ocorrido na noite da última quarta-feira. Enquanto o advogado lia, o campeão paralímpico permaneceu de cabeça baixa.
- Sou um homem adulto, um cidadão sul-africano e demandante de uma liberação sob fiança. Fiz essa declaração sob minha livre vontade e não fui influenciado. O conteúdo dela é verdadeiro e correto. Não consigo compreender como fui acusado de assassinato. Descarto um assassinato premeditado porque não tive intenção de matar minha namorada Reeva Steenkamp - afirmou Pistorius, através do advogado.
Pistorius chorou muito durante a audiência em
Pretória (Foto: Agência AP)
O atleta afirmou que estava vendo TV, sem suas próteses, enquanto Reeva fazia ioga, por volta das 22h do dia da tragédia. Segundo ele, a modelo havia lhe comprado um presente de dia dos namorados e os dois estavam apaixonados. Enquanto o advogado lia a declaração, Pistorius não conseguia se controlar e chorava aos berros. O juiz teve de pedir para o corredor manter a compostura.
Oscar Pistorius afirmou que no meio da noite acordou para pegar um ventilador e fechar a porta da varanda quando ouviu um barulho no banheiro. Ele achava que Reeva ainda estava na cama e que alguém havia invadido sua casa. Por estar sem suas próteses, o biamputado teria se sentido vulnerável e atirou.
- Já sofri ameaças de morte antes. Por este motivo, guardo uma arma de fogo debaixo da minha cama. Não há trancas na janela do meu banheiro - disse.
Posteriormente, a defesa leu uma declaração de Justin Divaris, definido pela mídia local como o melhor amigo de Pistorius, que garantiu que o atleta estava apaixonado pela modelo. O depoimento de uma amiga de Reeva, classificando o corredor como um cavalheiro, também foi lido.
A audiência foi suspensa após advogado de defesa, Barry Roux, pedir para juntar mais evidências com as perguntas demandadas à promotoria. O juiz Desmond Neil concordou e adiou a audiência para estar quarta-feira. O atleta continua preso.
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