sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Júri de Gil Rugai será retomado com debate entre defesa e acusação Para o promotor, réu caiu em contradição no interrogatório desta quinta. Defesa indicou nome de suspeito de cometer o crime.

O julgamento do estudante Gil Rugai entra no seu quinto dia nesta sexta-feira (22) com a sessão de debates entre a defesa e acusação no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Após essa etapa, os jurados vão se reunir em uma sala reservada para decidir se ele é culpado pelo assassinato de Luiz Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino, em 28 de março de 2004. A expectativa é que sentença seja proferida pelo juiz ainda nesta sexta.

Nesta quinta-feira (21), Gil Rugai foi ouvido pelo juiz. Os registros telefônicos do aparelho celular do estudante dias antes dos assassinatos foram motivo de controvérsia entre a acusação e defesa. Recorrendo a estes registros telefônicos, os advogados de defesa apontaram um ex-funcionário da produtora de Luiz Rugai, a Referência Filmes, como um dos suspeitos que deveria ter sido investigado pela polícia na época do crime. De acordo com o advogado Marcelo Feller, além de ter a chave da empresa, o ex-funcionário cobrava na Justiça trabalhista uma dívida de R$ 600 mil de Luiz Rugai na época. Para Feller, o funcionário mentiu ao relatar uma suposta briga do pai com o filho.


Além disso, os registros indicariam, no entender da defesa, que Gil Rugai manteve contatos por telefone com pai desde a terça-feira anterior à data do crime, ficando demonstrado que os dois não brigaram e muito menos que Luiz Carlos teria expulso o filho de casa após descobrir desfalques na empresa por parte de Gil Rugai.
“O que se provou hoje (quinta-feira) aqui é que o inquérito nasce contra o Gil exatamente por que um funcionário da empresa vai à polícia e aponta que na terça-feira anterior o Gil e o pai teriam se trancado em uma sala da empresa Referência, conversado, brigado por quatro horas, das 7h da noite às 11h da noite e que, depois dessa briga, o Gil teria sido expulso de casa pelo pai e vai então cortar relações com o Gil. O pai então teria descoberto um desvio de dinheiro e por isso expulsa o Gil de casa. O que ficou demonstrado hoje é que isso é mentira, mentira comprovada documentalmente. Primeiro, porque entre as 7h e às 11h da noite, o Gil faz diversas ligações para diversas pessoas com Erbs - Erbs é a antena que o celular está usando no momento -, então dá aproximadamente a região onde ele estaria. E mais, entre as 7h e 11h da noite, o Gil e o pai se falaram por telefone. Então pergunto: estavam os dois trancados em uma sala, cada um com seu celular, falando um com o outro pelo celular? Com Erbs diferentes? Impossível”, afirmou.
O acusado Gil Rugai chega ao Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, para o segundo dia de seu julgamento, e volta a declarar inocência. Ele é suspeito de ter matado em 2004 o pai, Luiz Carlos Rugai, e a madrasta, Alessandra de Fátima Troitino. (Foto: Adriano Lima/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo) 
Gil Rugai prestou depoimento na quinta (Arquivo:
Adriano Lima/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo)
 
Durante o seu interrogatório, Gil Rugai alegou que sequer foi à produtora do pai, que fica em Perdizes, naquele dia. “Eu não briguei com meu pai na terça-feira”, disse Gil. “Não participei de nenhuma reunião. [...] Fui jantar com o meu pai no América da Avenida Paulista.”
Sobre o ex-funcionário de Luiz Carlos, o advogado disse que ele “nunca foi investigado” e que “está sumido”. Devido a isso, o “suspeito” apontado pela defesa não teria sido localizado para ser arrolada como testemunha no júri. “A defesa não tem obrigação de provar quem é o culpado por este crime. O que a defesa tem obrigação de fazer é mostrar que outras linhas de investigação bastante sérias tinham de ser adotadas”, justificou.
Para o promotor Rogério Leão Zagallo, os registros telefônicos não provam absolutamente nada. “Gil Rugai, em outro depoimento, fala que esteve na Referência naquela noite. Fala que esteve com o pai na Referência e que a conversa que teria se iniciado lá no restaurante se prolongou até a casa e continuou naquela residência. Então, ele mentiu aqui. Faltou com a verdade aqui. Aquelas Erbs não dizem absolutamente nada”, declarou.


As poucas perguntas feitas pela acusação e respondidas durante pouco mais de meia hora já foram suficientes para o réu cair em contradição, no entender do promotor. “Nas perguntas que eu fiz e ele respondeu, pelo menos umas 3 ou 4 mentiras eu consegui elencar. Ele fala que não esteve na Referência naquele dia; em outros depoimentos ele fala que esteve. Ele fala que não encontrou ninguém no shopping; em outros depoimentos ele fala que encontrou com uma pessoa conhecida e fala que teve contato com uma outra pessoa que lhe deu um cartão. Ele poderia eventualmente ter arrolado essas duas pessoas para comprovar este álibi e não o fez. Isso tudo só de confrontar poucas perguntas que tive condições de fazer”, afirmou.
Zagallo lamentou a decisão do juiz, que o impediu de prosseguir com o interrogatório do réu, após este de recusar a continuar a responder as perguntas de acusação, por orientação de seus advogados de defesa. “Um réu tem o direito de não se auto incriminar. Tem o direito de não produzir prova contra ele. Isso está na constituição. Agora, eu tenho o direito de provar que ele mentiu, que ele faltou com a verdade.”
Sobre a suspeita levantada pela defesa contra um ex-funcionário da empresa, o promotor optou pela ironia: “Quer dizer, em um primeiro momento, é o tráfico de drogas. Em um segundo momento, é alguma animosidade, alguma questão trabalhista que está envolvendo. Não tem sentido”.
Interrogatório
O depoimento de Gil Rugai começou por volta das 15h50. Ele foi ouvido no quarto dia do julgamento, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Gil Rugai respondeu perguntas da defesa até as 20h10. Depois, os jurados fizeram mais quatro perguntas e o julgamento foi encerrado às 20h22.


Durante o interrogatório do réu pelo promotor Rogério Leão Zagallo, o advogado de defesa de Gil Rugai, Marcelo Feller, recomendou ao seu cliente que não respondesse mais a qualquer pergunta. Feller argumentou que Gil Rugai estava “sendo usado” para que a promotoria, antes da sessão dos debates entre acusação e defesa, fizesse "o seu discurso". Pouco antes, Zagallo questionava Gil Rugai sobre algumas pessoas conhecidas do réu.

Até a orientação de seu advogado, Gil Rugai havia respondido todas as perguntas do promotor de forma evasiva, com sentenças como “eu não sabia”, “eu ignorava completamente”, “não entendo por que ele falou isso”, entre outras. Ao ser questionado sobre as provas que pesam contra ele no processo que investigou o crime, Gil Rugai disse apenas “que preferiu não ler” o inquérito. “No começo, eu pegava as cópias e lia. Depois, preferi não ler mais”, declarou.
Respostas para o juiz
Em suas primeiras respostas, Gil Rugai negou diante do juiz ter cometido o assassinato de seu pai, Luís Carlos Rugai, e da madrasta, Alessandra Troitino. "Não fui eu, agora quem foi eu não sei", disse. Ele também afirmou que nunca teve arma de verdade e que apenas encostou nelas em duas ocasiões: teve contato com uma espingarda de seu pai e também com a arma de seu instrutor quando fez um curso de tiro.
Ela disse que o relacionamento com o pai era normal. “Não havia nenhuma animosidade”, declarou. Afirmou ainda que já tinha sido demitido dez vezes da Referência Filmes, onde cuidava da contabilidade.

Em janeiro de 2004, meses antes do crime, ele afirma ter se desligado por conta própria, mas continuou administrando as finanças pessoais do pai.

Cronologia do caso Gil Rugai (Foto: Arte/G1)
Gil afirmou que nunca foi seminarista e que estudou teologia – parou em curso no final de 2003. Disse ainda que pretendia ser padre em 2001. Também estudou letras.

Na pergunta sobre se tinha munição, respondeu: "apenas da Segunda Guerra Mundial, sem pólvora".
O depoimento do réu começou depois de outras três testemunhas ouvidas nesta quinta. Falaram o ex-sócio do réu, Rudi Otto Kretschmar; Fabrício Silva dos Santos, que atuava como vigia na Rua Traipu, parte de trás da casa de Luís Rugai; e Francisco Luiz Valério Alves, motorista do vizinho de Luís Rugai.

Todas as vezes em que se refere a Luis Rugai o chama de "papai". Ele afirma que morava em quatro casas ao mesmo tempo, porque tinha quartos na cada das duas avós, da mãe e do pai - que já vivia com a madrasta.

Gil Rugai contou ainda que mudou-se para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para trabalhar em campanha política local, para trabalhos publicitários, como confecção de santinhos. Ele estava em liberdade provisória e foi à cidade gaúcha sem avisar a Justiça e, após isso voltou a ser preso.

Recentemente trabalhou em confecções de amigos coreanos e em uma loja no Shopping Anália Franco. "Parei tudo por causa do júri", afirmou.

Gil Rugai também foi questionado sobre quem poderia ser o autor do crime e disse que passou dois anos na prisão pensando nisso, mas que desistiu. "Ninguém que eu conhecesse ia querer me prejudicar de forma tão grave assim".
Ele foi interrogado pelo juiz Adílson Paukoski até 17h13, quando o magistrado determinou um intervalo de dez minutos. "Falar que sou inocente, não vai adiantar muito", quando questionado pelo juiz se tinha alguma coisa a acrescentar. O interrogatório foi retomado às 17h45 com perguntas da acusação.

Outras testemunhas

Em seu depoimento, o publicitário Rudi Otto Kretschmar afirmou ter visto o réu com uma arma igual à pistola usada no crime, 15 dias antes da morte do casal. Desconfiada, um dia depois dos assassinatos, a testemunha teria ido ao local em que a arma era guardada por Gil, mas relatou não ter encontrado a pistola, em uma maleta. O ex-sócio de Gil, porém, não soube dizer se a arma que foi mostrada a ele no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para reconhecimento era verdadeira ou se era uma das armas de brinquedo que pertenciam a Gil.

O segundo depoimento do dia foi de Fabrício Silva dos Santos, que atuava como vigia na Rua Traipu. Ele disse não ter visto ninguém saindo da casa na noite do crime. Disse apenas ter ouvido o ruído de tiros, mas que não sabia do que se tratava. Dirigiu-se então ao outro vigia da rua, uma testemunha protegida cujo nome não foi divulgado pelo Tribunal de Justiça e que é uma das principais armas da acusação por afirmar ter visto Gil deixando a casa do pai. Segundo Fabrício, este vigia estava em sua guarita e afirmou que o ruído deveria ser o de janelas batendo.
O terceiro depoimento desta quinta foi de Francisco Luiz Valério Alves, motorista do vizinho de Luís Rugai.

Arma do crime

Na chegada ao Fórum nesta manhã, o promotor Rogério Leão Zagallo afirmou que na sexta-feira (22), quando devem ocorrer os debates entre defesa e acusação, deverá mostrar aos jurados a arma do crime. Segundo ele, o exame de balística confirma que os tiros que mataram Alessandra e Luís Carlos saíram da pistola calibre 380 encontrada no prédio onde Gil mantinha uma sala comercial. “Não há como não ter sido Gil Rugai o autor do crime. Foi ele. E é isso que vou provar amanhã”, disse.
Gil é acusado de matar o pai e a madrasta com 11 tiros, na residência em que morava na Rua Atibaia, em Perdizes, na Zona Oeste da cidade. No mesmo processo pelo homicídio, Gil responde ainda a acusação de ter dado um desfalque de mais de R$ 25 mil, em valores da época, à empresa do pai, razão pela qual havia sido expulso do imóvel cinco dias antes do crime. Ele cuidava da contabilidade da ‘Referência Filmes’.
A previsão do juiz Adilson Paukoski Simoni é que o julgamento termine até sexta-feira (22). Caberá a sete jurados – cinco homens e duas mulheres, escolhidos por sorteio - decidirem se Gil Rugai matou ou não o pai e a madrasta. O réu, que atualmente tem 29 anos de idade, responde ao processo em liberdade, mas já chegou a ficar preso por dois anos.
Arte Julgamento Gil Rugai (Foto: Arte G1)

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